Em setembro de 1944, na efervescência da Segunda Guerra Mundial e após a redemocratização do país com o fim da Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, inauguraram o Teatro do Estudante da Paraíba (TEP) em João Pessoa. Sob a iniciativa do Professor Afonso Pereira da Silva, o grupo teatral reuniu-se inicialmente no Colégio Estadual da Paraíba. No mesmo ano, na cidade do Rio de Janeiro, outro notável paraibano, Tomás Santa Rosa Júnior, participou da fundação do Teatro Experimental Negro (TEN), juntamente com Abdias do Nascimento e outros intelectuais, com o objetivo de formar intérpretes negros para o cenário da dramaturgia nacional.
Afonso Pereira acreditava fervorosamente que, por meio do Teatro do Estudante, seria possível impulsionar o ensino público e privado através da arte cênica. Reconhecendo isso, desde cedo, ele percebeu o caráter pedagógico da arte. Dentre os estudantes que tiveram a oportunidade de vivenciar o Teatro do Estudante, destaca-se Vicente de Paula de Holanda Pontes, mais conhecido como Paulo Pontes. Surpreendentemente, em 1956, quando tinha apenas 15 anos, escolheram Paulo Pontes como orador para fazer um discurso de apresentação da peça “Beata Maria do Egito”, de Raquel de Queiroz. O então jovem Paulo Pontes iniciou sua fala com as palavras: “Meus amigos, boa noite. O negócio é o seguinte…” A estreia da peça ocorreu no Teatro Santa Roza, que estava lotado como parte da programação de reinauguração.
O Teatro Santa Roza, historicamente, foi um dos principais palcos para as peças encenadas pelo Teatro do Estudante. Curiosamente, foi inaugurado em agosto de 1889, apenas poucos meses antes da Proclamação da República, um evento liderado pelos militares sob o comando de Deodoro da Fonseca. Com o tempo, o teatro consolidou-se como um importante local de apresentações culturais na Paraíba.
Durante a década de 1940, a expressão “ir ao cinema” significava dar uma volta nas praças onde estavam os coretos. Com a chegada dos filmes, foram criadas casas de espetáculos para que o público pudesse apreciar a sétima arte. No centro de João Pessoa, surgiram o Cine Rex, o Cine Plaza e o Cine Municipal. O Teatro do Estudante também utilizava os palcos dos cine teatros Rex e Plaza para encenar suas peças enquanto aguardavam a exibição de filmes. Na década de 1960, os cinemas também passaram a exibir filmes produzidos no próprio estado, como o famoso “Aruanda” (1960), dirigido por Linduarte Noronha, considerado um marco na produção cinematográfica brasileira.
Durante o período de atividade do Teatro do Estudante, de 1944 a 1981, paralelamente fundaram a Sociedade de Cultura Musical (SCM) em 1943, sob a direção do Professor Afonso Pereira e com a colaboração de outros entusiastas. Notavelmente, a criação da SCM marcou dois importantes acontecimentos: primeiramente, a fundação da Orquestra Sinfônica da Paraíba em 1945 e, posteriormente, o 1º congresso de música do Nordeste em 1949.
Na capital paraibana, a transmissão radiofônica desempenhou um papel significativo nos projetos de cultura musical. Por exemplo, a Rádio Tabajara mantinha o programa “Paisagem Sonora”, que tinha como objetivo aproximar o público da música clássica. Devido à sua qualidade, a programação semanal foi muito apreciada pelo público, resultando em diversas cartas elogiosas enviadas aos organizadores.
Afonso Pereira tinha uma visão abrangente da educação e, nesse contexto, percebeu a importância de incorporar o teatro ao ensino formal. Inspirado por essa visão, ele concretizou esse sonho ao fundar o Teatro do Estudante da Paraíba no Colégio Estadual da Paraíba em 1944. Curiosamente, oito anos após a criação do Teatro do Estudante do Brasil em 1937.
Por outro lado, o esforço de Afonso Pereira em prol de uma educação que englobasse as diversas linguagens, incluindo o teatro, não passou despercebido. Ele recebeu reconhecimento público por Paschoal Carlos Magno, amplamente conhecido como o “pai do Teatro do Estudante no Brasil”. Em resposta a esse reconhecimento, ele escreveu a crônica “O Paraibano Afonso Pereira” e, em um gesto significativo de carinho, enviou um recorte com uma dedicatória manuscrita para Afonso.
O projeto de criação do Teatro do Estudante da Paraíba estava presente desde 1942, sendo uma aspiração dos alunos do Colégio Estadual. Após a peça “Se Anacleto Soubesse”, que obteve grande sucesso na época, a iniciativa acabou perdendo força. No entanto, em 1944, Afonso Pereira retomou o projeto e realizou a 1ª conferência preparatória, ministrada pelo escritor Silvino Lopes, com o título “Como fazer teatro”. Essa conferência foi um marco para a efetivação da proposta de instalação oficial do Teatro do Estudante da Paraíba.
Várias articulações e iniciativas, principalmente de Afonso Pereira da Silva, resultaram na fundação oficial do Teatro do Estudante, e consideram-no oficialmente seu fundador. Durante a ocasião da conferência, elegeram a primeira diretoria oficial e, nesse contexto, Silvino Lopes assumiu a função de orientador do grupo. Além disso, a diretoria de honra contava com personalidades de destaque, como Dr. João Medeiros, Dr. Abelardo Jurema, Sr. Marques de Almeida, D. Renato Ribeiro Coutinho e a Sra. Alice Carneiro.
O Teatro do Estudante da Paraíba deu seus primeiros passos na construção de seu legado com a montagem da peça “O Sábio”, de Joracy Camargo, sob a direção de Afonso Pereira. Notavelmente, a estreia ocorreu no dia 4 de outubro de 1946, no Cine Teatro Rex. No entanto, nos dois anos seguintes, o grupo teve que superar desafios e, apesar das dificuldades financeiras e da falta de apoio, conseguiu realizar diversas montagens.
Afonso Pereira, com determinação, lutou incansavelmente para manter o projeto do Teatro do Estudante, adotando estratégias empreendedoras para gerenciar os custos e captar recursos. Nesse contexto, ele mantinha anotações financeiras meticulosas e, de forma proativa, buscava o apoio de diversos setores, tanto públicos quanto privados, articulando seu posicionamento por meio de discursos e publicações em jornais.
Apesar das dificuldades enfrentadas, o Teatro do Estudante da Paraíba resistiu tenazmente ao longo dos anos, servindo como um catalisador para o desenvolvimento artístico e educacional no estado. Graças à iniciativa de Afonso Pereira, o legado deixado pelo Teatro do Estudante pavimentou caminhos para o crescimento cultural e a emergência de novos talentos na Paraíba.
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